segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Under one umbrella




Era um sábado de manhã, estava caminhando naquele parque durante duas horas e nada parecia ter mudado. Eu vi algumas pessoas com seus cachorros e outras com suas crianças, eu podia sentir o cheiro do pão que indicava o amanhecer e tentava desesperadamente não pisar nas poças de água já acumuladas. Havia chovido, mas o sol já aparecia timidamente entre as nebulosas fendas de um céu escuro. Estava ali pra tentar esquecer todo resto, era meu local favorito desde que tinha me mudado, no entanto, nada parecia cooperar. As risadas das crianças me faziam sentir novamente na infância, quando meus pais ainda me carregavam para locais como aquele; mesmo que arrastada sempre era persuadida a ficar. E ficava e como queria voltar agora, daria tudo por mais um momento daqueles.  Lembrar-me deles com a perda tão recente de meus pais parecia cruel demais, entretanto tentar esquecê-los não fazia muito sentido.
Por isso continuei caminhando naquele parque, tinha a desculpa perfeita de me esquecer com todos aqueles detalhes que me faziam lembrar. Era o paradoxo mais gostoso que eu já havia feito. O ventou soprou mais forte banindo esse pensamento e me fazendo olhar fixamente  para o café no qual todos as mesas viraram. Fui me afastando enquanto ouvia o dono reclamar no mais alto nível que horário permitia e senti o primeiro pingo. Caiu tão friamente na minha bochecha vermelha que tentava, com todas as forças, se recuperar de todo o choro semanal. O sol se esvaiu com a mesma fluidez com que se tornou visível e cedeu o seu lugar às insistentes nuvens negras que persistiam em tornar meu dia ainda pior. A chuva veio com uma veracidade maior que a dos meus pensamentos inquietos e tomou todo o parque. A maioria das pessoas saiu correndo tentando proteger seus cachorros e filhos, mas, eu não.
Eu continuei caminhando naquele parque sem nenhum aparente motivo já que meu paradoxo havia saído atrás de um local coberto. Fiquei ensopada em alguns minutos e podia ouvir minha mãe na porta me dizendo pra entrar; meu paradoxo havia voltado e por isso continuei caminhando. Percebia o balanço das árvores e o cair das folhas quando senti um toque no ombro; a mão era firme e quente, mas, foi superada pelo imenso sorriso que se seguira. Ele diz bom dia, e eu respondo. E sem mais nenhuma palavra ele me colocou dentro de seu guarda-chuva e caminhou comigo, comentando sobre o clima e seus restaurantes favoritos. No inicio me senti acuada e respondia educadamente, entretanto, quando comecei a interagir senti o que tanto necessitava desde a morte de meus pais, acolhimento. 

 Esse texto foi inspirado no quadro acima "under one umbrella" de Leonida Fremov  

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