Era um sábado de manhã, estava
caminhando naquele parque durante duas horas e nada parecia ter mudado. Eu vi
algumas pessoas com seus cachorros e outras com suas crianças, eu podia sentir
o cheiro do pão que indicava o amanhecer e tentava desesperadamente não pisar
nas poças de água já acumuladas. Havia chovido, mas o sol já aparecia timidamente
entre as nebulosas fendas de um céu escuro. Estava ali pra tentar esquecer todo
resto, era meu local favorito desde que tinha me mudado, no entanto, nada
parecia cooperar. As risadas das crianças me faziam sentir novamente na infância,
quando meus pais ainda me carregavam para locais como aquele; mesmo que
arrastada sempre era persuadida a ficar. E ficava e como queria voltar agora,
daria tudo por mais um momento daqueles. Lembrar-me deles com a perda tão recente de
meus pais parecia cruel demais, entretanto tentar esquecê-los não fazia muito
sentido.
Por isso continuei caminhando
naquele parque, tinha a desculpa perfeita de me esquecer com todos aqueles
detalhes que me faziam lembrar. Era o paradoxo mais gostoso que eu já havia
feito. O ventou soprou mais forte banindo esse pensamento e me fazendo olhar
fixamente para o café no qual todos as
mesas viraram. Fui me afastando enquanto ouvia o dono reclamar no mais alto nível
que horário permitia e senti o primeiro pingo. Caiu tão friamente na minha
bochecha vermelha que tentava, com todas as forças, se recuperar de todo o choro
semanal. O sol se esvaiu com a mesma fluidez com que se tornou visível e cedeu
o seu lugar às insistentes nuvens negras que persistiam em tornar meu dia ainda
pior. A chuva veio com uma veracidade maior que a dos meus pensamentos
inquietos e tomou todo o parque. A maioria das pessoas saiu correndo tentando proteger
seus cachorros e filhos, mas, eu não.
Eu continuei caminhando naquele
parque sem nenhum aparente motivo já que meu paradoxo havia saído atrás de um
local coberto. Fiquei ensopada em alguns minutos e podia ouvir minha mãe na
porta me dizendo pra entrar; meu paradoxo havia voltado e por isso continuei
caminhando. Percebia o balanço das árvores e o cair das folhas quando senti um
toque no ombro; a mão era firme e quente, mas, foi superada pelo imenso sorriso
que se seguira. Ele diz bom dia, e eu respondo. E sem mais nenhuma palavra ele
me colocou dentro de seu guarda-chuva e caminhou comigo, comentando sobre o
clima e seus restaurantes favoritos. No inicio me senti acuada e respondia
educadamente, entretanto, quando comecei a interagir senti o que tanto
necessitava desde a morte de meus pais, acolhimento.
Esse texto foi inspirado no quadro acima "under one umbrella" de Leonida Fremov
Nenhum comentário:
Postar um comentário