Coloquei os
fones e tirei o livro da bolsa com intuito de passar o tempo, a viagem era
longa, de no mínimo uma hora. Não conhecia ninguém no vagão e nem estava
disposta a conhecer; olhei de canto a canto dos meus óculos na esperança de não
ser reconhecida, e não fui. “Baby,
I know places we won´t be found in”, a música dizia. No mesmo instante, eu
lia as tristes e valorosas palavras de Anne em seu cativeiro “Trens carregados de
jovens partem todos os dias. Alguns tentam fugir...”; e lá estava eu, em um trem,
fugindo. Partir e chegar parecem palavras antônimas, entretanto, caminham lado
a lado no mundo exterior à sintaxe. Era
verdade, eu estava recomeçando, o que certamente significava que algo tinha acabado.
Tentei não
pensar naquilo, fechei o livro e voltei a olhar meus ilustres companheiros de
vagão. Havia cerca de cinco pessoas à minha vista: Uma família, uma senhora e
um rapaz. Prestei atenção nos primeiros, talvez estivesse sendo intrometida,
mas continuei a olhá-los por dois motivos, nunca fui o tipo de garota
envergonhada e adorava aquele tipo de jogo. Tinha como melhores personagens os gênios
do suspense como Sherlock e Poirot. A criança sorriu pra mim e eu desviei o
olhar no instinto mais primitivo possível. Arrependi-me, e a olhei novamente,
mas, não nos encontramos. Sua mãe lhe ofereceu um pacote de biscoitos enquanto
seu pai falava rispidamente com alguém no telefone. Lembrei-me do motivo,
precisava sair daquela cidade tão barulhenta, cinza e monótona.
Passei à
senhora de cabelos longos e cinzentos, que carregava no olhar as marcas de uma
vida vivida com alegria, daria tudo por aquele tipo de experiência no momento. Ela
olhava a menina encantada com sua risada e fazia de tudo para que ela não
parasse. Eu ri, talvez alto demais, já que em seguida o rapaz ao meu lado disse
que sentia saudade da sua avó. Queria dizer a ele que esperasse sua vez de ser
percebido, mas, seu comentário foi tão puro e sincero que apenas sorri de
volta. Sua jaqueta de couro contrastava tanto com aquela ultima fala que entrei
em profunda admiração pelo ser; fiquei assustada por aquela frase ter quebrado
todas as barreiras que eu tinha erguido ao entrar no trem. Ouvi o sinal tocar e
o condutor avisar o final da viagem. Levantei, arrumei meu vestido, tirei os
fones e me voltei ao banco onde se encontrava uma carteira de couro que
combinava com o da jaqueta. Tentei alcançá-lo, mas, o jeito foi devolver a ele
duas semanas depois, no bistrô da cidadezinha.
P.S: Fica aqui a recomendação do álbum
1989 da Taylor Swift e o diário de Anne Frank como dica literária.
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