domingo, 29 de novembro de 2015

Uma menina de laço azul

     Difícil pensar em algo mais querido do que o falar. Naquele momento, no entanto, o silenciar fazia total sentido. Jamais poderia dizer a ele o que foi presenciar aquele olhar. Eu sabia o que significava, eu sempre o via de longe e nunca tinha sido pra mim. Mais uma vez, não era. Não queria estar ali, mas estava. Eu olhava no fundo dos seus olhos na esperança de estarmos juntos, compartilhando do mesmo universo lúdico, talvez. Não importava muito, existiam outras bilhões de coisas que compartilhávamos. E ainda havia o mistérios das outras que ainda não sabíamos. Precisava não pensar agora, precisava sair. Sair pra onde? - eu pensava. Nada dizia.

    Nada fazia também; existiu um período de tempo no qual eu fiquei estática, esperando que ele me dissesse o que tinha sido aquilo. Ele sorriu e disse ali o tamanho do seu amor. Não por mim, nunca por mim. Quis chorar, "você não pode chorar". Olhei ao redor. Vi uma menina de laço azul nos cabelos finos; ela encarava uma das muitas lojas de brinquedos a frente. Não queria todos, como o resto das crianças. Eu conseguia vê-la apontando um, repetidamente. Daria qualquer coisa pra trocarmos de lugar, só naquele momento.

   "Você não vai dizer nada?" - ele disse. Não queria dizer nada, e então, sorri. Tentando transmitir algum tipo de mensagem contrária no mais expressivo ato de contentamento. Talvez ele conhecesse meus sorrisos tanto quanto eu conhecia os dele. Nada falamos, morri por dentro. Olhei ao redor. Vi uma menina de laço azul nos cabelos finos; ela sorriu - por favor, sorria pra mim, eu pensava. Ela, no entanto, o olhava, enquanto o mesmo fazia a melhor de suas caretas. Eu ri, a menina também. Ela acenou e eu quis ir com ela. Talvez nos divertíssimos juntas com o seu mais novo brinquedo; pelo menos, uma de nós estaria rindo.

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