Pensava nas bonitas manhãs de um inverno interiorano; suas
brisas frias e pequenos raios de sol que se esticavam ao máximo a fim de
iluminar certos olhos, esquentar certas mãos e tornar o respirar menos denso.
Queria uma manhã daquela, mas não a tinha. Ao contrário, existiam tantos raios
de sol que ninguém poderia ser considerado especial ao ser tocado por um. Não,
isso não é uma reclamação; trata-se apenas de uma consideração sobre a
inconstância do clima. Pode parecer geografia, mas, essa nunca se mostrou uma
matéria de fácil compreensão; para mim é literatura, não por ser fácil
compreender, mas, por ser bonito, e por te tornar especial. Existem livros e
livros com detalhadas descrições de relevo, clima, precisando corretamente
todos os pontos devastadores de uma natureza incansavelmente bela; isso é tudo
o que eu consigo escrever sobre o hoje, é bonito, azul e definitivamente não é
um inverno interiorano. Continuava meus devaneios quando fui retirada deles por
um encontrão. Não ouvi nenhum pedido de
desculpas e continuei a andar nas ruas apertadas da capital. Onde estão meus
óculos? – perguntei a mim mesmo em um tom mais alto do que eu queria.
Meus
óculos não estavam lá e apesar de parecer que eu não precisava deles, eu
precisava. Dei meia volta, 180°. Fui correndo dessa vez, estava atrasada demais
pra pensar na minha falta de preparo físico e nos saltos do meu sapato. Aqueles
paços largos me fizeram cair nos braços de um alguém familiar. Parecia que eu
já havia visto aqueles olhos – o rapaz do encontrão, penso eu. Dessa vez não
teve jeito, eu tive que pedir desculpa. Ele me olhou, me ergueu e não disse uma
palavra. Continuou andando, nem se
virou, nem sussurrou nada. Fiquei surpresa com a total falta de comunicação do
ser. Desisti dos óculos, voltei na direção de onde eu vinha. O sol brilhava
mais que nunca e eu dizia baixinho - Me torne menos especial e brilhe um pouco
menos. Meu inverno interiorano se esvaia cada vez mais quando eu voltei a
trombar com a mesma pessoa, pela terceira vez. A pancada dessa vez foi tão
forte que ambos caímos no chão.
Ele me olhou de um jeito que
ainda não tinha feito, levantou e me ajudou a fazer o mesmo. Eu que não diria
mais nada a ele já me virara e continuara a andar quando senti sua mão no me
braço. Virei, ele sorriu. Tentei com todas as forças não sorrir hoje, mas, a
vida continua me dando essas várias oportunidades – ele disse. Eu sorri. Senti-me especial como numa manhã
de inverno interiorano.
Não ver as pessoas,
ResponderExcluirEstando na vida a passeio
Comer miolos de pão
Sem saber da casca
Que é crosta e é cheirosa
E qualquer coisa a mais
Que não bela.
A crosta faz a corte de tudo o que não é.