segunda-feira, 11 de maio de 2015

Crônicas, etc e tal



Escrever crônicas é uma tarefa árdua e por isso fico muito impressionada com a destreza de alguns em realizá-la. Significa partir do principio que sua vida é interessante a ponto de compartilhá-la com leitores ou ter capacidade  suficiente de assim torná-la na pura habilidade da linguagem. Ah como é lindo transformar por de sol em metáfora e criar sonetos, versos, poemas. Entretanto, não existe estilo linguístico mais difícil e por mim apreciado  do que empenhar tão bem  figuras a fim de disfarçar sua pura, preconceituosa e defeituosa visão de vida. Somos humanos, seres imperfeitos e ainda sim não há como ler uma boa crônica e não se identificar com o dia a dia do escritor. Seja nos anos 40, 50 ou agora, somos todos cariocas. Seja na cidade, no campo, somos todos brasileiros. Tenhamos nós 20, 30 ou 40 anos, ainda somos pessoas; andando pela cidade, pelo campo e talvez tendo historias a serem contadas dos 40 e 50.
Como posso eu não amar o amor dos compositores e dos cronistas por Copacabana, Ipanema e Leblon. Não existem maneiras de fazer me desgostar do seu cuidado ao descrever um sorriso de uma criança ou da sua aparente indiferença ao falar sobre amores passados, amores presentes e amores futuros. Estudá-los e entender o porquê de cada palavra seria um dos meus maiores privilégios, mas, acho que não são esses os seus objetivos. As crônicas não são escritas para durarem séculos e serem consideradas trechos imaculados da literatura. Provavelmente uma crônica escrita hoje por algum bom cronista não será lembrada daqui a alguns anos em consenso pela população. Entretanto, o texto certo lido pelo individuo certo, nunca será esquecido. Será reelido, passado a adiante e marcará uma determinada época; pra aquela pessoa não existe texto melhor que a defina.    
Essa individualidade, esse amor por compartilhar e o grau de conexão que uma crônica pode apresentar são os principais motivos pelos quais eu me apaixono cada vez mais por esse estilo. Encontrei-me em estado de euforia quando Rubem Braga decidiu antecipar em 58 anos uma das minhas decepções amorosas. Foi incrível perceber sua sensibilidade em descrever seus detalhes e sua precisão em prever seu final. “Não Ameis a Distância!” afundou-me ainda mais quando lida pela primeira vez, no entanto, fez-se em total sentido depois de reelida algumas vezes.Conclui-se que eu credito muito crônicas, porque são feitas de verdade e ainda sim são repletas de confissões, segredos, memórias. E na falta de um cronista presente, o final desse texto é só mais um.

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