Parecia um
ambiente agradável, mas não me senti à vontade quando sentei na cadeira. Eu
havia chegado cedo demais e a banda ainda nem começara a tocar. Eu ouvi o trompetista afinando seu instrumento quando o
garçom perguntou se eu queria alguma coisa; uma água, eu disse. Ele a trouxe
quase instantaneamente, eu agradeci. O piano iniciou uma melodia detalhista,
concentrada, que eu conhecia pelo nome. O cantor não cantava com a
autenticidade do King Cole, mas, a melodia era gostosa e fez lembrar-me de
quando meu pai me rodopiava pela sala nos seus pés. Fui interrompida por um
sorriso estupidamente largo e bruto, seguido por uma mão gentil pousada em
frente a mim; ele a estendia de forma simples e ágil, como se fizesse o mesmo ato
todas as noites. Ele falou alguma coisa enquanto eu estava perdida nas minhas
observações; eu balancei minha cabeça.
Fui puxada
pelas mesmas mãos e logo percebi que tinha aceitado uma dança. Não havia
ninguém dançando, fomos os primeiros. Ele me conduzia de forma agradável: A
brutalidade das mãos não combinava com seus paços suaves. Ele não era
autoritário; propunha o passo e cabia a mim segui-lo ou não. Eu sempre o fazia,
claro, por dois principais motivos: minha falta de inclinação e talento para
qualquer atividade motora, e o seu olhar era singelo demais para que eu o
recusasse assim. Talvez eu encontrasse o amor ali, me via apaixonando-me a cada
balanço da dança. Seus braços envolviam minha cintura e eu sentia seu respirar
quente e úmido no meu pescoço. Aquilo me fez esquecer o real motivo da minha
vinda ali. Enquanto ainda rodopiava pelo salão, uma segunda mão tocou meu
ombro, quase não a senti, ela era franzina, negligente e conhecida.
Pedi licença
ao meu parceiro de dança e segui aquelas mãos até uma mesa. Trocamos algumas
palavras e eu tirei da bolsa o anel, ainda quente do uso. Entreguei-lhe
deixando ali qualquer magoa dos meses passados, um noivado terminado e a tristeza
da perda. Sorrimos um para o outro, ele pegou minha mão e a beijou, dizendo
naquele gesto que um dia disse olá, um adeus sincero e melancólico. Ele havia
partido e eu me via sucumbir em lágrimas quando senti novamente as brutas mãos
no meu ombro. Eu sorri, agradeci e dancei o resto da noite.
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