Abri os olhos como se os tivesse
fechado há segundos atrás, as noites se tornavam cada vez menores e os dias intermináveis.
A vida adulta se tornou um cargo pesado demais para uma menina que carecia de
maturidade; fez-se valer, no entanto, a necessidade de se viver, sobreviver.
Era o que eu fazia agora, sobrevivia em um mundo destruidor de sonhos e gerador
de constantes declínios. Confesso que é uma visão bastante pessimista, melancólica
e talvez poética demais, mas tudo o que eu já fui vem acompanhado de seguidas metáforas.
O dia seguia azul e incandescente demais para o meu estado de espírito. Caminhei
em direção ao carro, já pensando na seleção de músicas tristes a serem ouvidas
no longo caminho da viagem. Não queria me mudar, não queria que nada mudasse.
Entretanto, lá estava eu, indo em direção à um novo futuro, uma nova casa,
um nova vida.
As
perspectivas não eram muito boas; deixar tudo aqui em busca de um sonho parecia
uma alternativa razoável antes. Agora, não. Não naquele momento, talvez não
fosse capaz de partir com o amor aqui. Eram muitas suposições e pouco tempo de
decifrá-las. Liguei o carro e parti, não era definitivo ainda, mas parti. Meus pensamentos tentavam a todo o momento
voltar e me fazer dizer adeus, eu não era capaz então os desviava sempre. Olhei
pro lado e vi, um dos momentos mais bonitos da minha vida. Estacionei e sai do
carro pra perceber o calor da manhã invadindo as montanhas e a cidade ao fundo.
Foi uma cena devastadora que demonstrava a grandiosidade da natureza; naquele
instante soube que não estava sozinha e o meu coração se encheu de paz.
Permaneci
ali durante um bom tempo, contemplando um amanhecer cheio de cor, de vida.
Quase me tornei uma espécie de bucolista. Aquele seria meu lugar de
transformação, onde a vida mudaria, onde eu não deixaria ninguém para trás
apenas alcançaria o que há a frente. Senti a brisa, os raios de um sol quente e
prossegui rumo ao futuro, rumo à felicidade.