Corria, sem parar um segundo. O esforço, nunca antes feito, tirou de mim os últimos suspiros saudáveis do momento; chiava a cada passo, a cada respiração me via cair de desespero. Corria, sem olhar para trás. Não que eu pudesse ver meu perseguidor mas, o sentia em cada acelerada. Tropecei, cai, chorei. Quando abri os olhos, não havia ninguém lá, não havia nada lá. Cai de novo, no vazio dos meus pensamentos dessa vez. Era um sonho. Levantei correndo, estava atrasada. Tomei banho, café e saí. No caminho, tudo o que eu conseguia pensar era num texto lido em um lugar qualquer: " Cheguei a pensar que era falta de romantismo meu, ou talvez desamor, mas descartei as duas hipóteses. Sempre fui sentimental e nunca levei adiante relações que não estivesse emocionalmente envolvida, e por mais que eu pareça durona, é apenas fachada." Apenas fachada era a bola da vez. Estava triste e talvez realmente sofresse de desamor; falta de amor próprio. Os outros não precisam de um problema a mais e desde que estivessem bem não havia porquê ser uma pessoa que se compartilha. Corri atrás do ônibus, esse era o verbo da vez. Entrei e dei um "bom dia" compatível com meu humor ao trocador, ele respondeu no mesmo tom.
Sentei-me perto da janela, os raios de um Sol acolhedor me alcançaram. O céu azul era palco de uma manhã incrivelmente linda. A paisagem da viagem de sempre, por algum motivo, era diferente e o vento soprava fraco e quente, como o respirar. Respirei, inspirei como nas aulas de ioga abandonadas e pela primeira vez na manhã tive paz. Lembrei-me então de ser grata e guardar meus ressentimentos tão pequenos diante da grandeza do Criador. Uma senhora sentou ao meu lado e eu lhe dei "bom dia", compatível com meu humor. Ela sorriu e respondeu no mesmo tom. Tornei a encarar a janela e fiquei envolta numa calmaria sem medida. Respirei, inspirei e tive paz, mais uma vez. Fechei os olhos, dormi. Sonhei que corria, não mais de alguém. Corria para alguém, que com os braços abertos me esperava com o sorriso mais puro antes visto. Eu queria tanto chegar em seus braços, queria tanto estar naquele abraço. Corri mais rápido, mas, caí. Levantei, seus braços ainda estavam imóveis, andei, acordei.
"Desculpa te acordar filha, mas, chegamos ao ponto final". A senhora dizia com o mesmo sorriso de antes. Eu agradeci com toda ternura possível e ouvi a frase passar de novo pela minha cabeça. "Você disse ponto final?", droga pensei. Saí do ônibus, corri.
P.S: Segue o link da música que inspirou o titulo do conto, da Sheryl Crow:
https://www.youtube.com/watch?v=KzTMN-S1tbs
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