Ela escrevia em um
pequeno caderno que tinha na capa um dos quadros mais famosos de Gustav Klimt,
o beijo. Lembrei-me de visitar o museu e ter visto aquele mesmo; não havia
gostado. Entretanto, ele assumia um caráter delicado quando sua mão seguia os
contornos daquele caderno. A obra se tornou a mais linda quando o fato de
talvez ser o seu preferido me veio à
cabeça. Vasculhei em mim todo e qualquer tipo de informação que tinha sobre ele,
mas, não alcancei nada que a mente de uma fã não saiba. No entanto existiam
outras possibilidades; se a agenda fosse um presente seria mais fácil de
encantá-la. Um menino passou correndo e levou com ele o meu olhar. Era mais um
dia no parque e o vento balançava o seu cabelo enquanto corria da bronca da
mãe. Por uns instantes me senti aquele menino. Costumava ser visitante
frequente daquele lugar, por mais que existisse mais de dois anos que não.
Saí de casa
pensando no caso arquivado que teria que lidar quando chegasse ao trabalho.
Peguei minha pasta, comprei um café, liguei para o meu chefe. Eu vi um grupo de
meninos correndo com suas bicicletas em direção ao parque e aquela visão
despertou em mim o desejo de visitá-lo. Foi a decisão mais bem tomada dos últimos
dois anos, pensei, ainda reparando em cada detalhe do seu vestidinho florido e
do seu caderno/obra de arte. O menino passou correndo pro outro lado e a tirou
da minha visão. Fechei os olhos e senti a brisa. Quando voltei o olhar, ela não
estava mais lá. Era pedir demais que depois de todos esses anos, eu encontrasse
o amor assim. Eu levantei, quase atropelando o menino corredor, e vi o
caderninho jogado na grama.
Eu caminhei
até ele, sentei onde ela havia sentado e abri o caderno. Eu podia sentir o
cheiro do seu perfume emanando do caderno e das folhas. Folhei o caderno e vi
que ela estava escrevendo um poema; algo sobre um cara apressado que vinha
passar o dia no parque. Ele era como eu, e talvez fosse sobre mim. No começo do
caderno havia um nome, um telefone e muita expectativa.
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