Eu, que durante tanto tempo acreditei
no propósito maior da linguagem, trazia agora a carga de tê-la usado sem pudor.
Eu, que acreditei tanto no amor, não fazia dele um bom proveito. Sempre me
questionei em relação aos desperdícios que eu fizera na vida, esse era só mais
um deles. Andava na rua tentando não sucumbir em melancolia – pelas coisas
ditas, pelo amor vivido. Se antes no amor eu vivia, agora nem vivo mais.
Existia apenas. Levava os dias existindo neles, nunca apreciava demais alguma
atividade ou me deixava ser entristecida por outra. Caminhava, porque caminhar
faz bem. Comia, porque era essencial. Sorria, porque, às vezes, era inevitável.
De resto, eu nada fazia.
A vida era dura demais para minha
sensibilidade sem limites. Nenhum desastre havia acontecido; eu apenas me
esvaia na ilusão das minhas questões, mais uma vez. Pensava em tudo isso
sentada nas cadeiras de uma praça qualquer, enquanto pulava mais uma refeição
no dia. Eu vi crianças brincando em um parquinho próximo, e me esvai na pureza
de suas risadas. Eu vi idosos fazendo exercícios, e me esvai no amor que eles
tinham pela vida. Descobri que era uma atividade prazerosa e então, observei
cada pessoa que passava e as admirava por algum motivo qualquer. Dentre todas as
coisas que eu poderia fazer me esvair na felicidade alheia foi o que eu escolhi.
Eu sentava no mesmo lugar, no mesmo
horário, todos os dias, e sorria. Sorria porque era sempre inevitável. Os
idosos me chamavam pelo nome e eu brincava com as crianças todas as tardes.
Redescobri o amor pela vida. Percebi que o maior desperdício era viver sem ser
feliz.
Como consegue ser assim tão...
ResponderExcluirTão...LINDA!!!❤
Texto muito bom, xuxu
ResponderExcluirDesvendando a alma mais um vez! Amo vc!
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