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Vista do HUCFF, 1° de agosto de 2017, por Clarissa Reis |
Acho que
prefiro não mais escrever, tenho aquela velha desculpa da falta de tempo, não
que esse seja o motivo real. A vida é dura, mas esse também não é motivo. A
vida não é tão dura pra mim. Eu cresci numa casa cercada de amor, cresci nos
caminhos do amor que Cristo nos ensina e tenho um bom futuro à minha frente.
Não escrevo porque eu não sei. Não sei escrever sobre as grandes lutas de
terceiros e as minhas já não tão grandes, nem tão tristes. Tudo o que eu sempre
posso dizer é o que eu senti ao ver determinado sofrimento e isso já não é tão
real ou interessante quanto a própria história de superação.
Então decidi
contar histórias, por que se existe uma coisa que eu sempre fiz bem foi drama.
Mas hoje, no caso, já comecei divagando sobre a vida e é difícil mudar de estilo
literário no meio do texto; como eu já disse, não sei escrever. Tudo o que me
resta, como sempre, sou eu mesma e as minhas crises repetitivas e tão doidas,
sempre. As dessa semana foram tão incríveis como todas as outras. A vida na
faculdade é difícil, e como eu não posso me ater a experiências que não são
minhas, a minha vida na faculdade é difícil. Mas não tão difícil quanto a vida
de outras pessoas que vivem temporariamente na faculdade que no caso é o
hospital.
Eu entendo que
eu e minha sensibilidade excessiva sofreremos bastante nesses próximos anos. Segunda
semana de ciclo clinico e eu já chorei algumas vezes encarando a vista do HU,
pedindo a Deus misericórdia e graça pra eu poder crescer sem quebrar de vez. Mas
meus ossos não são de vidro, tenho vivido sempre. A clínica é ótima, soberana,
essas coisas todas. O que ninguém te conta mesmo é o que fazer quando sua
pergunta da anamnese faz seu paciente chorar, quando seu exame físico causa
dor, quando sua presença incomoda. Não quero que pareça que não somos
ensinados, os professores são incríveis e se aprende muito, muito mesmo. No
entanto, existem coisas que a gente precisa sofrer pra aprender. Eu sou
eternamente grata pelo ensino e espero ser eternamente humilde pra aprender até
onde minha presença é necessária. Nessas últimas semanas, recebi sorrisos, choros,
gemidos e dor; uma mistura de tudo o que define a fragilidade humana. A vida
humana é tão frágil, e é esse o motivo.