Nos primeiros anos da faculdade de Medicina, aprendemos muito
pouco do que a Medicina em si é. No terceiro período, no entanto, temos essa matéria
pratica chamada atenção integrada à saúde, AIS. Nela nós acompanhamos consultas,
visitas domiciliares e procedimentos, em alguma clínica da família. Tem sido
uma grande experiência – a mais pratica,
a mais humana que eu vivi na faculdade. Existem muitas histórias tristes que
ouvimos, muitas vezes em que seguramos o choro pra não nos mostrarmos não aptos
tão no começo da faculdade. Dentre todos
os pacientes, acompanhei a consulta de uma. Uma menina, uma mulher. Entrou no
consultório, não aparentava ter mais de 25 anos, estava grávida. Minha primeira
grávida, que emoção. Eu costumo dizer que eu sabia que o meu propósito de vida
era cuidar de crianças, antes mesmo da Medicina. Eu queria pediatria, antes de
querer medicina. Procuro não pensar muito nisso ainda. Enfim, fiquei muito feliz
de acompanhar pela primeira vez, de tão pertinho, um bebezinho. Ela estava no
final da gravidez de um menino. Pensei que talvez o nome dele pudesse ser Pedro,
então na minha cabeça ele é o Pedro. Ela
parecia bem e feliz.
A médica faz perguntas pertinentes à
gestação e acompanha suas ultras, exames e histórico pelo sistema. Depois disso,
vamos ao exame físico, ela sobe a blusa e abaixa a calça. A médica palpa sua
barriga e pede que nós sintamos os limites do útero na paciente. Quando é minha
vez de sentir, o bebê chuta e eu o sinto. Eu senti tão mais que o chute. Sempre
soube o que queria ser, mas sentir é outro estágio de aceitação que eu ainda
não tinha chegado. Mas esse bebê, o Pedro, me fez sentir. Sentir a minha real
responsabilidade no mundo. Sentir o grande propósito de Deus pra mim. Depois
ouvimos seu coraçãozinho, batia tão rápido, o que é normal. Eu fiquei pensando
na quantidade de vida naquele pedacinho de gente. Fiquei pensando em como seria
ser futuro. Pensei nas oportunidades que ele teria, e na vida que ele levaria.
E ali, ali mesmo, orei por ele. Pedi que Deus o fizesse feliz, que lhe desse
amor. Eu não disse nada disso pra ninguém ali, nem acho que nosso papel como
profissionais da saúde seja esse. No entanto, eu realmente espero que a vida
seja gentil com o Pedro e que ele seja feliz. Ele me deu o que eu tanto esperava
e agora eu sigo um pouquinho mais confiante no meu próprio futuro.
Ele cuidou de mim, antes que eu pudesse
cuidar de qualquer um. Eu sei que esse é só o começo de muitos casos que trarão
grandes reflexões assim. Espero que eu saiba aprender em cada um deles. Espero
ser uma boa médica, espero cuidar bem das pessoas, do jeito que o Pedro cuidou
de mim.